segunda-feira, 13 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Jogo e brincadeira

  Quando se trata de crianças com T.G.D., uma das características é a dificuldade em brincadeiras simbólicas. Já ouvi muitas vezes "essa criança não brinca"... Brinca, sim! E de um jeitinho muito peculiar. Por vezes, uma tampa de panela ou uma meia podem ser bem mais interessantes que uma boneca ou um carrinho.
  Na Sala de Recursos investimos em jogos, adaptados ou não e na utilização de tudo que pode levar ao lúdico, a uma brincadeira.
   É importante lembrar a diferença entre jogo e brincadeira. No jogo as regras são explícitas; na brincadeira elas são implícitas, os participantes vão criando conforme o tempo passa. O que é interessante no jogo e na brincadeira é a interação que ambos proporcionam. Esta interação pode acontecer com um colega de sala, com a professora ou até mesmo com um computador. Temos usados jogos onde os alunos podem mostrar seus conhecimentos e ampliar seus saberes, através da intervenção pedagógica.
  Com os alunos com D.I., temos usado jogos como pega-varetas, dominó, memória e alguns jogos de tabuleiro. A intencionalidade é a compreenção de regras, a sequência lógica, a elaboração de estratégias e também lidar com o "ganhar ou perder".





   Todos se divertem. E criança feliz é criança interessada! A aprendizagem se torna significativa e prazerosa.

Disbicicléticos


Disbicicléticos[1]
Emilio Ruiz Rodriguez[2]
Dani é uma criança que não sabe andar de bicicleta. Todas as outras crianças do seu bairro já andam de bicicleta; os da sua escola já andam de bicicleta; os da sua idade já andam de bicicleta. Foi chamado um psicólogo para que estude seu caso. Fez uma investigação, realizou alguns testes (coordenação motora, força, equilíbrio e muitos outros; Falou com seus pais, com seus professores, com seus vizinhos e com seus colegas de classe) e chegou a uma conclusão: esta criança tem um problema, tem dificuldades para andar de bicicleta. Dani é “disbiciclético”.
Agora podemos ficar tranqüilos, pois já temos um diagnóstico. Agora temos a explicação: o garoto não anda de bicicleta porque é disbiciclético e é disbiciclético porque não anda de bicicleta. Um círculo vicioso tranqüilizador. Pesquisando no dicionário, diríamos que estamos diante de uma tautologia, uma definição circular. “¿Por qué lá adormidera duerme?. La adormidera duerme porque tiene poder dormitivo”. Pouco importa, porque o diagnóstico, a classificação, exime de responsabilidade aqueles que rodeiam Dani. Todo o peso passa para as costas da criança. Pouco podemos fazer. O garoto é disbiciclético! O problema é dele. A culpa é dele. Nasceu assim. O que podemos fazer?
Pouco importa se na casa de Dani seus pais não tivessem tempo para dividir com ele, ensinando-lhe a andar de bicicleta. Porque para aprender a andar de bicicleta é necessário tempo e auxílio de outras pessoas.
Pouco importa que não tenham colocado rodinhas auxiliares ao começar a andar de bicicleta. Porque é preciso ajuda e adaptações quando se está começando.
Pouco importa que não tenha nas redondezas de sua casa, clubes esportivos com ciclistas que ele pudesse se relacionar ou amigos ciclistas no bairro que o motivasse. Porque para aprender a andar de bicicleta não pode faltar motivação e vontade de aprender. E pessoas que incentivem!
Pouco importa, enfim, que o garoto não tivesse bicicleta porque seus pais não puderam comprá-la. Porque para aprender a andar de bicicleta é preciso uma bicicleta. (Felizmente, os pais de Dani, prevendo a possibilidade de seu filho ser disbiciclético, preferiram não comprar uma bicicleta até consultar um psicólogo).
Transportando este exemplo para o campo da síndrome de Down, o processo é semelhante. Desde quando a criança é muito pequena, apenas um recém nascido, é feito um diagnóstico – trissomia do vigésimo primeiro par de cromossomos – por um médico especialista e verificado com uma prova científica, o cariótipo. A partir disso, entramos em um círculo vicioso onde os problemas justificam o diagnóstico que por sua vez é justificado pelos problemas.
Por que a criança não cumprimenta, não diz bom-dia quando chega nem adeus quando vai embora? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Achei que era mal-educada.
Por que a criança não se veste sozinha, tendo que sua mãe vesti-la e despi-la todos os dias, se já tem 8 anos? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não a tinham lhe ensinado.
Por que continua a tomar mamadeiras se já tem 6 anos? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Imaginei que era comodismo de seus pais.
Por que a criança não sabe ler? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não haviam ensinado.
Por que não anda de ônibus sozinha? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não lhe permitiam fazer isso.
E assim, uma lista interminável de supostas dificuldades que, por estarem justificadas pela síndrome de Down, não necessitam de nenhuma intervenção, mas sim de resignação. Todas as suas dificuldades se devem a síndrome de Down.
Podemos estender a qualquer outra deficiência em que o diagnóstico médico ou psicológico pode ser utilizado como desculpa para nos eximirmos de responsabilidades. Se classificamos a criança como disfásico, disléxico, discalcúlico, disgráfico, discapacitado visual ou auditivo, mental ou motor, disártrico ou simplesmente disbiciclético, estamos fazendo algo mais do que ‘colocar um nome’ no que acontece com esta criança. Estamos criando expectativas naqueles que a cercam.
Por isso, eu sugiro que antes de comprar uma bicicleta para seu filho ou sua filha, comprovem que ele não é disbiciclético. Para que não coloquem dinheiro fora.
[1] Texto extraído da Revista Síndrome de Down 22: p. 73, 2005.
Traduzido do espanhol por Juliano R. Mombach